Esquema fraudulento garante certificado de nível superior em 10 dias; MEC diz não ter responsabilidade no caso
04 de fevereiro de 2013
SÃO PAULO - Diplomas falsificados de nível superior estão sendo
vendidos livremente na internet. A compra pode ser feita por qualquer
pessoa – até mesmo por quem nunca cursou uma universidade. Os supostos
comerciantes oferecem até certificados da área médica. Um diploma de
Enfermagem, por exemplo, custa R$ 6 mil.
Em diversos sites, falsificadores prometem entregar os
diplomas de curso superior em prazos de até dez dias. Dizem também que o
documento entregue terá um suposto reconhecimento do Ministério da
Educação (MEC) e será oficializado, com a publicação no Diário Oficial
da União.
Sem saber que se tratava de uma reportagem, um atendente do site Sucesso Corp (www.sucessocorp.com.br)
explicou por telefone como funciona o esquema ilegal à Rádio Estadão. É
preciso enviar documentos à faculdade indicada pelo negociador e pagar
60% do valor, como sinal. Por um diploma de Pedagogia, ele cobrou R$ 4,5
mil.
“Tudo legalizado em 15 dias. Reconhecido e publicado”,
afirmou. “Você vai escanear os documentos e mandar por e-mail para lá.
Eles vão fazer o encaixe e mandar para o MEC. Em dois ou três dias, o
MEC deu OK. Você faz 60%. Mais oito dias, sai a publicação e eu mando
levar.”
Identificando-se como Marcos, o atendente também disse que há
a possibilidade de o comprador escolher a universidade pela qual o
documento falso será emitido. “De repente, eu posso conseguir na
(faculdade) que você pretende. Como posso conseguir outra”, disse.
Em outro portal de compras e vendas, um atendente ofereceu os
serviços com a promessa de entregar diplomas em todo o País. Também por
telefone, o infrator garantiu à reportagem a autenticidade do diploma e
disse conseguir um número de registro que dá acesso exclusivo ao
histórico escolar de um aluno desistente do curso pretendido.
O homem chegou a oferecer a emissão do diploma por duas
instituições de ensino superior de São Paulo. “Aí em São Paulo tem a
Presbiteriana (Mackenzie) e, se for o caso, consigo pra você na Unip”,
disse.
“O diploma é reconhecido e registrado e tem até o RA. Você
vai poder checar dentro da própria instituição a autenticidade do que
você está comprando. Tem muita gente que te vende um pedaço de papel e
você não pode averiguar nada”, continuou.
Questionado se havia riscos no esquema, ele garantiu que não:
“Não vai ter. Se der problema para você, com certeza eles vão chegar
até mim”.
Máfia. Questionado sobre o caso, o diretor
jurídico da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior,
José Roberto Covac, levantou a hipótese de que diplomas originais
estejam sendo usados no esquema fraudulento e de que haja envolvimento
de funcionários das universidades. “Quem assina o diploma é o reitor.
Quando a universidade faz o registro do diploma, ela verifica todo o
registro acadêmico do aluno. Parece que há uma máfia e que alguém de
dentro da universidade está fabricando documentação e registro. E o
reitor acaba até assinando o diploma sem ter conhecimento”, disse.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie afirmou por nota que
repudia a comercialização de diplomas. A instituição diz que o processo
seria “praticamente impossível de ser realizado dentro da universidade”,
por causa do número de setores e profissionais envolvidos na diplomação
dos alunos.
Também citada pelo fraudador, a Universidade Paulista (Unip)
afirmou que “os sistemas adotados pela instituição inviabilizam o
esquema de confecção de diplomas a não formandos”. A Unip disse que
pretende procurar a Polícia Civil para requerer a instauração de um
inquérito para investigar a identidade de possíveis criminosos e a forma
de atuação deles.
Sobre a suposta ajuda que os fraudadores mencionam ter na
confecção dos diplomas, a assessoria de imprensa do MEC disse que as
universidades são “inteiramente responsáveis” pelo documento e “não cabe
ao MEC parte alguma no processo”.
Extraído do: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário